Transpiração Excessiva – Fuja dela
Mãos geladas, pés úmidos e axilas molhadas não acontecem apenas quando você dá de cara com aquele cara gatíssimo e está mais descabelada do que tudo. Esses sintomas podem estar ligados à hiperidrose, doença caracterizada pelo excesso de suor que não cessa
Para quem transpira demais, atitudes simples, como digitar no teclado do computador, se espreguiçar ou usar uma sandália aberta, tornam-se um verdadeiro martírio físico e psicológico. Suar além da conta é um drama que atinge cerca de 2%da população, mas boa parte dessas pessoas desconhece os métodos existentes para controlar a sudorese ou então não sabe que tem, de fato, alguma doença. Elas costumam creditar a umidade constante em determinada parte do corpo ao fato de serem apenas “calorentas”.
Razões para o pinga-pinga
A hiperidrose é uma doença cercada por dúvidas. Não se sabe ao certo por que algumas pessoas transpiram de forma desproporcional, enquanto outras podem ficar dias inteiros sem passar desodorante. O concreto é que a regulação do suor em nosso corpo fica a cargo do sistema nervoso simpático (ligado às funções involuntárias do corpo), responsável também por acelerar os batimentos cardíacos, dilatar a pupila e aumentara pressão sanguínea. Quando a temperatura do corpo sobe — seja por causa de um estímulo nervoso, seja pelo calor ambiente, seja pela prática de exercícios físicos—, as células nervosas se ligam às glândulas sudoríparas espalhadas por todo o organismo e estimulam a transpiração. “Nas pessoas que sofrem de sudorese excessiva, esse processo é contínuo, mesmo após a regulação da temperatura corporal”, diz a dermatologista Ada Trindade de Almeida, membro da Sociedade Internacional de Hiperidrose. A hipótese mais aceitável para essa situação de suor sem fim é a de que o cérebro não receba a respostado organismo dizendo ‘Já suei o suficiente’ e continua a estimulara transpiração, porque as pessoas com essa disfunção têm glândulas sudoríparas em quantidade e tamanho absolutamente normais.
Focos do problema
É possível classificar a hiperidrose em dois tipos: a primária, de origem genética, e a secundária, desencadeada por outras patologias, como diabetes, febre, obesidade, hipertireoidismo e depressão.”Cerca de 50% dos pacientes que sofrem de hiperidrose primária têm um ou mais parentes de primeiro grau com o mesmo problema”,afirma o neurologista João Carlos Limongi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). As partes do corpo mais afetadas pelo excesso de suor, que pode aparecer de forma localizada ou generalizada, são as axilas, mãos e pés, regiões com maior número de glândulas sudoríparas. Contudo, o suadouro pode acontecer com menor frequência nas costas, barriga, nuca e testa. “A doença costuma surgir nos primeiros anos da idade adulta, quando a pessoa está mais sensível às críticas externas, embora em locais como nuca, tronco e pés ela possa ocorrer já nos primeiros anos de vida”, diz o dermatologista Adilson Costa, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e consultor de WH.
Transtorno social
Mesmo sendo uma doença, a hiperidrose não oferece grandes riscos à saúde, exceto por alguns problemas de pele. “O excesso de umidade no couro cabeludo pode desencadear um quadro de dermatite seborreica; já nos pés, de micoses e frieiras”, diz o dermatologista Marcelo Bellini, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e consultor de WH.O maior incômodo fica por conta dos transtornos emocionais,causados pela insegurança e ansiedade geradas pelo suor desequilibrado, o que compromete a qualidade de vida. “O contato social e físico fica restrito, pois o portador da hiperidrose perde a naturalidade e a espontaneidade tentando policiar os sintomas durante todo o tempo”, afirma a psicóloga Mariana Chalfon, de SãoPaulo. Suar em bicas transforma atos simples em situações de tensão, como apertar a mão de alguém que acabou de conhecer ou abraçar um amigo em uma festa. “Podemos dizer que o problema gera uma retração social porque as pessoas evitam se relacionar com medo de ser julgadas”, diz Heloisa Schauff, psicóloga especialista em terapia de casal e família e em estudos do stress.
Controle no prato
Diminua o suor à mesa evitando alimentos que promovem a sudorese, como os muito quente sou condimentados (sobretudo à base de pimenta), bebidas como o álcool, o café e alguns tipos de chá com cafeína (o preto,por exemplo). “Eles aceleram o metabolismo, aumentam a quantidade de sangue na superfície da pele e, em consequência, a transpiração”, diz André Pellegrini, nutricionista do Instituto Levitas, em São Paulo. O profissional alerta que os remédios para a perda de peso com efeito termogênico (induzem à queima de gordura) possuem efeito semelhante e podem fazê-la pingar mais do que o normal.Segundo Flávia Morais, nutricionista e coordenadora do Departamento de Nutrição da Rede Mundo Verde,a ingestão de proteínas em excesso também desencadeia esse processo.”Tanto a carne suína quanto a bovina, vísceras, leite e derivados contribuem para ativar o sistema nervoso simpático”, afirma.