Menstruação: é hora de parar? Especialistas respondem às dúvidas mais comuns

Menstruação: é hora de parar? Especialistas respondem às dúvidas mais comuns

Mulheres cansadas de sangrar todo mês estão optando pela suspensão temporária da menstruação. O primeiro médico a defender a medida foi Elsimar Coutinho, ao lançar o livroMenstruação, uma Sangria Inútil (Gente), em 1996. O ginecologista baiano argumentava que não fomos feitas para sangrar, mas para ter filhos. Sua tese provocou polêmica: havia muitas dúvidas sobre o risco à saúde para quem fazia tal opção e, àquela altura, as brasileiras já tinham conseguido reduzir a taxa de fecundidade no país para 2,49 filhos por mulher — hoje, a média nacional é ainda menor, apenas 1,9. Com o tamanho da prole sob controle, a parte da tese de Coutinho que passou a interessar mais foi o conforto de banir os sangramentos da agenda mensal. Quase uma década depois do livro, estudos passaram a demonstrar que a suspensão traz benefícios. Uma revisão de vários trabalhos publicada em 2005 na revista científica Current Opinion in Obstetrics & Gynecology mostrou, por exemplo, que o sistema proporciona maior eficácia contraceptiva, sem alterações sugestivas de doenças no endométrio.

A prática começou a ganhar adeptas não só entre as que sofriam de TPM e endometriose — quando células do revestimento uterino se espalham por outros locais, inflamam e causam dor — mas também entre as interessadas em conforto ou maior qualidade de vida. Em uma pesquisa de 2006 do Centro de Saúde Reprodutiva de Campinas (SP), a maioria das 420 entrevistadas, na faixa dos 18 aos 49 anos, afirmou que gostaria de menstruar em intervalos maiores do que um mês ou, se possível, nem menstruar. Segundo as autoras, Carmen Porto Ribeiro, Elen Hardy e Eliana Maria Hebling, livrar-se de imposições biológicas, como engravidar, dar à luz, amamentar e engravidar novamente, foi uma das grandes conquistas femininas. Safar-se da “obrigação” de menstruar é, para as pesquisadoras, a segunda etapa da mesma revolução. Antes de seguir por esse caminho, porém, vale dirimir qualquer dúvida para avaliar se é a melhor escolha para você.

O natural não é menstruar?

Não há consenso. O ginecologista Malcolm Montgomery escreve no livro Mulher, um Projeto sem Data de Validade (Integrare) que o natural é a mulher estar grávida ou amamentando e não ter ciclos regularmente. Ele afirma: “Ao evitar a gravidez, a mulher contemporânea dribla a biologia. A consequência é um excesso de períodos ovulatórios e maior incidência de males relacionados à menstruação”. Pelos cálculos de Montgomery, nossas bisavós tinham de 40 a 80 ciclos menstruais na vida porque engravidavam muito mais. Na mulher atual, esse número passa de 400. Outros médicos pensam de modo diferente. “A menstruação é um processo natural indicando que naquele mês não há gravidez”, diz a ginecologista e terapeuta sexual Mariana Maldonado, coautora do livro Palavra de Mulher (Integrare). “Só que, por mais que seja natural, é um período muito incômodo e às vezes há dor. Aí a suspensão pode ser uma alternativa.”

Para quem se recomenda a suspensão?

Há diferentes benefícios. Como acaba com a oscilação hormonal, a medida alivia todos os sintomas da TPM, incluindo as variações de humor e o inchaço provocado pela retenção de líquidos. O ginecologista Rogério Bonassi Machado, presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), lembra que “a menstruação induz inflamações no revestimento uterino (a endometriose), o que pode ser evitado simplesmente com a supressão”. Também combate a doença inflamatória pélvica – em que o aparelho reprodutor é atingido por bactérias sexualmente transmissíveis. E há outras indicações clínicas, como cólicas intensas e miomas (tumores benignos no útero). Sem contar a adoção por conveniência. As atletas da seleção feminina de vôlei, vencedoras do ouro olímpico em Londres, são um exemplo disso. Profissionais com rotina atribulada têm justificativa semelhante: evitar a queda no rendimento provocada pelos altos e baixos hormonais.

Toda mulher pode se beneficiar?

“Não se deve generalizar. À luz da ciência atual, é positiva a suspensão, mas vale levar em conta o significado que o ato de menstruar tem para cada uma”, analisa o psiquiatra Joel Rennó Jr., diretor do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. “Muita mulher vê a menstruação como sinal de que seu corpo está bem, de que ela é fértil e entra em conflito se pressionada a suprimi-la.” O médico ressalta que a medida não é obrigatória para ninguém: há outras possibilidades de tratamento, inclusive para TPM severa. “É preciso tomar cuidado para não se deixar levar pelo modismo e fazer a própria escolha.”

Fonte: claudia.com