A mulher que trabalha por dois

A mulher que trabalha por dois
Muito se tem escrito sobre liderança, motivação, delegação e gestão do tempo para executivos. E é possível perceber que quase todos os textos são escritos por e para os homens, que ao chegarem em casa descansam e pensam consigo mesmo: dever cumprido por hoje! Será que as mesmas soluções sobre tempo se aplicam às mulheres executivas ou, de uma maneira geral, àquelas que trabalham durante o dia, e quando chegam em casa iniciam outra jornada como mães, mulheres e donas de casa?

Nos dias de hoje se espera das mulheres um desempenho semelhante ao dos homens nos ambientes de trabalho. Talvez até um pouco mais, como se isso fosse necessário para provar que elas são capazes de trabalhar tão bem quanto eles. Tudo que se espera da gestão do tempo de parte de executivos e profissionais no trabalho é válido para ambos os sexos.

O problema é que ao chegarem em casa, passa a haver uma distinção entre ambos. Não é que muitos homens hoje em dia não ajudem em casa, mas admitamos: não é regra geral. A imagem clássica da chegada do homem em casa, desde os tempos de nossos avós e pais, mostra o homem sendo recebido pela mulher com um par de chinelos, indo tomar seu banho e jantando logo a seguir. A mulher tinha ficado em casa cuidando para que tudo desse certo nessa hora.

Mas isso mudou, e muito. Não é raro encontrar mulheres que saem de casa antes e retornam depois dos maridos, têm responsabilidades maiores no trabalho, são mais qualificadas e até ganham muito mais que eles. Os reflexos disso no trabalho são inevitáveis, mas algumas dicas podem ajudar nessa delicada tarefa:

  • É preciso que as mulheres admitam que vão ter de lidar com problemas domésticos mesmo estando longe de casa, como o filho que se machuca ou não quer comer, as lições do colégio e o atraso do motorista levando as crianças para o ballet e para o judô.
  • Os homens também devem aprender a conviver com as mesmas mulheres, pois os minutos que elas gastam com a casa as deixam tranqüilas e as fazem render muito mais logo a seguir, certas de que seus problemas foram resolvidos.
  • É bom que as empresas também aceitem isso tudo como normal daqui em diante; afinal, não são elas que falam tanto em qualidade de vida?

O reflexo na vida familiar e da casa também é grande, e uma nova postura se torna necessária, principalmente por parte dos filhos e do marido:

  • A primeira e grande mudança é o estabelecimento de um pacto de ajuda mútua, no qual não se espera que o outro faça, mas se faz quando é necessário, cabendo a nós realizar naquele momento aquilo que outros não podem fazer por qualquer motivo (abrir a porta para a diarista, tomar recados ao telefone ou receber a roupa que o tintureiro está entregando).
  • Todos devem ter tarefas a cumprir, e não apenas esperar que a dona de casa o faça (afinal, é obrigação dela?). Exemplos típicos são arrumar a cama e botar a mesa.
  • Participar do processo de compras de supermercado, açougue ou padaria, olhando não apenas o seu lado, mas também a casa e a família. Isso implica em comprar não só as guloseimas, mas também detergente, lâmpadas, sabão e saco de lixo entre outros.
  • Estabelecer um lugar comum para troca de mensagens e avisos que interessam a todos ou que podem influir nas decisões do dia-a-dia. A geladeira é um lugar recomendado, pois todos a usam com freqüência (lembretes sobre pagamentos, informações do seu roteiro de hoje e telefones onde pode ser achado, a nota dos remédios pedidos e entregues pela farmácia).
  • Respeitar ao máximo as regras da proação, principalmente se a casa não tem empregada ou se não é dia da diarista. Traduzindo: não deixe o copo na pia após beber água, pois ele não se lava sozinho; estenda a toalha após o banho, pois ela não voa da sua cama para o varal por si mesma! 
    – Evitar todas as formas adotar posições comodistas e fugir das responsabilidades dizendo aos filhos: isso é sua mãe quem decide!

Às listas acima podem ser acrescentadas mil outras frases, simples como essas ou não, mas o recado importante está dado: empowerment, delegação, team building, proação, planejamento e comunicação têm lugar não apenas no trabalho mas sobretudo em casa.

Respeitar a mulher que trabalha fora de casa ou não é a proposta da nova família. Dividir com ela as responsabilidades domésticas é sinal de respeito e maturidade. É reconhecer que as mudanças no trabalho têm mais chances de ocorrer se eu souber implantá-las antes no meu ambiente familiar, onde os erros e acertos são tratados com amor e carinho, e não como veículos de competição e medição de resultados.

Além disso tudo, quantas famílias só realizam sonhos maiores de viagens, estudos e conforto por que são as mulheres executivas que garantem todos ou grande parte desses sonhos?

Você achou o que leu com cara de déjà vu?

Talvez seja porque nós homens saibamos agir, mas infelizmente, não agimos como sabemos.

*Fernando Henrique da Silveira Neto é consultor do MVC – Instituto M. Vianna Costacurta Estratégia e Humanismo em Gestão do Tempo e Organização do Trabalho, Reuniões, Gestão de Oportunidades, Excelência de Serviços de Informática e Técnicas de Apresentação.

Fonte: Carreira