As várias fases da separação

As várias fases da separação

A reforma da nova casa estava concluída. O próximo passo, depois de quatro anos de casamento, eram os filhos. Mas, de repente, os planos e sonhos de Renata Borges, de 34 anos, foram colocados em stand by. Depois de uma briga e uma semana sem entrar em contato, o marido pediu o divórcio e a administradora não teve outra escolha senão acatar a decisão.

“Foi uma mudança muito brusca. Em um dia, eu vivia em função da nossa vida em comum, no outro, não tinha mais nada”, conta.

Os dois primeiros meses após a separação foram os mais difíceis. Muitas e muitas vezes, ela se desesperou, sentiu-se perdida, abandonada.

“As coisas mudaram quando saí do ‘estado de choque’ e passei a entender tudo o que levou nosso casamento ao fim”, explica.

Os estágios pelos quais Renata passou são bastante comuns entre aqueles que viveram ou estão vivendo uma separação. Tanto que são tema do livro “Mais forte a cada dia”, da norte-americana Susan Pease Gadoua (Companhia Editora Nacional).

Para Susan, o fim de uma relação é uma experiência de luto, como a que passamos após a morte de parentes próximos e queridos. Por isso, ela avalia que vale nesse caso o modelo que Elisabeth Kübler-Ross elaborou em seu livro Sobre a Morte e o Morrer (Martins Fontes). Tomando como base sua experiência com 500 pacientes terminais, a dr. Kübler-Ross formulou seus Cinco Estágios do Luto: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação que acabaram virando clássicos e são utilizados até hoje para analisar esses processos de perda.

Na fase de negação, a pessoa não conseguiu ainda entrar em contato com a dor, “Estou bem”, ela diz, “Isso não pode estar acontecendo”. Uma vez que a situação real é percebida, a próxima etapa é a raiva, “Por que eu, afinal?” Em seguida, vem a fase da negociação, como se existisse alguma forma de ‘ganhar tempo’, de ‘refazer alguma coisa’, de ‘consertar algo’. Segue-se um período de depressão, de sofrimento propriamente dito. Nesse momento, é importante deixar que a pessoa processe o sofrimento no seu ritmo, sem tentar todo tempo alegrá-la. Finalmente, vem o tempo da aceitação: “Vou ficar bem”.

Embora muitas vezes esses estágios aconteçam exatamente nessa ordem, isso não necessariamente se aplica em todos os casos.

Susan Gadoua também ressalta que embora cada um passe por esse processo de uma forma, é necessário passar por todos esses estágios para chegar naquilo que ela chama de “divórcio com dignidade”.

O psicólogo e terapeuta de casal Antônio Carlos Alves de Araújo reconhece os estágios descritos por Susan, mas aponta uma dinâmica um pouco diferente. Enquanto a morte não está sob nosso domínio, o fim de um casamento – ou mesmo de um namoro – com frequência envolve um outro sentimento, a rejeição.

“Não tomamos como uma ofensa pessoal a morte de alguém. Mas se eu fui preterido por ser feio, baixo ou por ter um comportamento diferente, passamos a carregar também esse peso. E quando acontece com uma mulher, soma-se também a sensação de frustração e de derrota”, esclarece.

Por isso, na opinião de Antônio Carlos, o sentimento que melhor sintetiza esse drama emocional é um só: ódio. 
Apesar de ser um termo forte, não necessariamente implica em violência. Mas em um trauma interno, que precisa ser dissolvido seja sozinho, seja com a ajuda de um psicoterapeuta.

“Ninguém está preparado para perder o outro. É normal não conseguirmos nos desapegar, temos tendência de ficarmos presos em uma relação mesmo quando não a queremos mais. A única saída, então, é ter coragem, enfrentar os desafios que virão e avaliarmos honestamente nossos sentimentos e emoções”, orienta o psicólogo.

Foi em busca dessa verdade, que Aline Vianna resolveu pôr um ponto final em sua história. Depois de 16 anos de casamento, um filho e três tentativas de separação, ela decidiu que era a hora de ser novamente feliz – sozinha ou com outra pessoa. Para isso, estipulou uma data e durante todo o tempo, entre a decisão e o dia em que saiu de casa, traçou novas metas para o futuro. “Das outras vezes, sempre batia o arrependimento. Ou porque não tinha o apoio da família ou porque achava que precisava dar mais uma chance ao meu casamento. Agora, saí tranquila, em paz e pela porta da frente”, lembra.

A atitude de Aline – principalmente porque partiu dela a iniciativa de se separar – foi importante no momento da divisão dos bens. Isso porque, quando ainda estamos envolvidos emocionalmente, temos dificuldade para resolver assuntos mais práticos. Para Eliana Assaf da Fonseca, advogada especializada em direito da família e professora da UniCapital, o ideal é que as partes procurem orientação jurídica assim que a separação deixa de ser uma especulação e faça parte dos planos do casal.

“Quando o divórcio é consensual, o advogado é acionado para decidir a partilha dos bens e depois, se houver filhos, a guarda das crianças. Se o divórcio é litigioso, o processo é um pouco mais complicado e pode continuar se uma das partes não entrar em acordo”, explica Eliana. Nesse último caso, a melhor opção é contratar dois advogados – assim, cada um pode defender os seus interesses.

“Geralmente, os homens cedem os imóveis para a ex-mulher por causa dos filhos. Mas é preciso ter bom senso, o outro também precisa começar do zero, ter o seu espaço, e isso apesar de toda mágoa que envolve o fim do casamento”, pondera Eliana.

Montanha-russa de emoções

Embora não tivesse outra opção, a vida de Renata pós-divórcio ainda sofreu uma avalanche de emoções. “Agora, quando olho para trás, vejo que sou mais feliz sem ele. Reencontrei amigas, fiz uma viagem de férias sozinha e passei a viver de uma outra forma. Mas, há momentos, em que a melancolia toma conta. E aí, a única coisa que eu quero é que alguém me pegue pelo braço e me tire dessa confusão”, explica a paulista.

Para Susan Pease Gadoua, essa “montanha russa de emoções” também faz parte do processo de enfrentar a situação e deixar a história que chegou ao fim no passado. Quando ela vai ter fim? Infelizmente, não existe uma resposta objetiva, depende de como terminou e de como os envolvidos estão dispostos a encarar o fato.

“Esse trauma pode durar meses, anos. Tem gente que leva muito tempo para se sentir pronta e começar outro ciclo.”

E, de modo geral, segundo o psicólogo Antônio Carlos Alves de Araújo, 
“o melhor conselho nesses casos continua sendo aquele das nossas avós, ‘só se cura um amor, com um outro amor’’.

Fonte: delas.ig