Sexo casual vale a pena?

Sexo casual vale a pena?

“Fomos apresentados por uma amiga comum. No bar onde estávamos,
a conversa foi fluindo, entre copos de vinho, revelando logo de saída o interesse um pelo outro”, recorda Marta*, de 38 anos, sem namorado há cinco anos. “Quando saímos do bar, beijámo-nos e fomos para casa dele. Fizemos sexo e foi bom. Tomei um ducha rápida, ele ficou deitado e eu saí”, acrescenta.
“Mais tarde, ele pediu o meu contato à nossa amiga mas não autorizei e nunca mais o vi. Como esta situação já tive algumas mas é sempre na minha cama e sozinha que termino a noite e é assim que pretendo manter-me”, conta ainda.

Se, para muitas mulheres, partilhar a sua vida com alguém especial é importante, para outras não.

“As mulheres sem relacionamentos assumidos estão aumentando entre nós, tal como as mulheres que optam por não casar e que não invejam a maternidade”, refere Vânia Beliz, psicóloga clínica e sexóloga, no seu livro Ponto Quê – O Prazer no Feminino, publicado pela Objectiva. Segundo a especialista, “estas mulheres não querem abdicar da privacidade e autonomia conquistadas”.

O sabor da independência

“Com o passar dos anos, tornei-me muito mais exigente, o que faz com que prefira estar sozinha. Tenho a minha casa, o meu círculo de amigos, estabilidade emocional e não sinto necessidade de partilhar isto com um companheiro”, explica Marta.

Algumas pesquisas sugerem que as mulheres que procuram sexo casual possam ter medo dos relacionamentos. Mas a sexóloga Vânia Beliz alerta que “é preciso distinguir a situação de nunca desejar um relacionamento sério e a situação de passar uma temporada dedicada a nós próprias”.

Marta confessa que teve algumas relações duradouras mas agora sente-se bem sozinha sublinha.

Uma mudança social

Para o psicólogo clínico Quintino Aires, o aumento do número de mulheres sem uma relação assumida é uma realidade que reflete mudanças culturais com implicações psicológicas.

“O compromisso não desapareceu. A diferença é que, no passado, o compromisso era regulado pela sociedade e, uma vez assumido, esse compromisso era para sempre. Hoje, somos nós próprios a assumi-lo e esta mudança levanta sérias dificuldades numa sociedade que, no momento da escolha, não consegue decidir e, então, adota a estratégia de não assumir compromissos”, acredita ele.

Crise de identidade?

“A sociedade atual não está organizada para desenvolver a identidade pessoal”, alerta Quintino Aires, explicando que “no momento de escolher o namorado(a), não há a certeza se é mesmo aquela a pessoa certa ou não”.

De acordo com o psicólogo, o controle dos pais durante a adolescência também pode desencadear esta crise psicológica na idade adulta.

“A construção da identidade pessoal, saber o que cada um quer e gosta, implica um treino de experiências que os jovens muitas vezes não têm durante a adolescência. O resultado é que muitas mulheres descobrem apenas por volta dos 30 anos que ainda não conseguem escolher o companheiro com quem desejam partilhar a sua vida”, constata o especialista.

Uma fase de descobertas

  Aos olhos da psicologia “as  mulheres que optam por relações fugazes estão lutando por uma identidade,  conhecimento  de si mesmas, mesmo que não  tenham essa consciência”, alerta o psicólogo Quintino Aires.

 “Aparentemente, envolvem-se apenas com a finalidade da atividade sexual mas, na verdade,

 trata-se de um movimento de  descoberta”, sublinha.

“Em termos psicológicos, estão fazedo o mesmo que uma criança que brinca para descobrir o mundo, aqui estão a envolver-se para descobrir os parceiros amorosos e para se descobrirem a si mesmas”, diz.

“Só experimentando podemos saber o que gostamos e não gostamos e os encontros sexuais sem qualquer compromisso resultam de uma intuição desse princípio”, considera o especialista.

Fuga à rotina

Para a psicóloga e sexóloga Vânia Beliz, “nem todas as mulheres procuram um companheiro para a vida e, para muitas mulheres, o sexo desprovido de compromisso ou qualquer cobrança é uma forma de não cair no envolvimento e fugir à tão temida rotina, comum numa vida a dois”.

O testemunho de Marta prova isso mesmo. “As relações de longa duração têm tendência para entrar na rotina, ao contrário dos encontros esporádicos, onde se mantém o interesse e o jogo de sedução.

As emoções são vividas muito mais intensamente”, afirma a especialista.

Essa vivência mais intensa acaba por se manifestar sem levar a pessoa

a sentir o peso de ter que encarar a possibilidade do(a) companheiro(a) de uma noite ter uma presença permanente na sua vida. Contudo, a sexóloga Vânia Beliz ressalva que “nem todas estão preparadas para

 lidar com os sentimentos que podem surgir depois de uma noite de sexo. É importante estarmos seguras do que pretendemos e ter a certeza que depois seremos capazes de não esperar mais daquela relação”.

Quem procura sexo sem compromisso?

“São mulheres independentes, muito mais amadurecidas em termos de personalidade e

que, por isso, não se permitem seguir um trilho cultural de submissão à regra como no passado.

Mas ainda não suficientemente maduras porqueainda não foram capazes de formar a sua

identidade afetiva sexual, ainda estão nessa descoberta”, afirma Quintino Aires, psicólogo

clínico.

Um risco chamado paixão

“Por vezes, é difícil separar as coisas e evitar o envolvimento, porque existe uma série de sentimentos e pensamentos que surgem e que nem sempre se controlam”, constata a sexóloga Vânia Beliz. “Racionalizar demasiado a relação, esperar mais, pode ser sinais de que procuramos mais do que sexo”, alerta.

 

*nome fictício

Fonte: bahiamulher.com.br