Veja o que há de errado com as dietas desintoxicantes
Dietas altamente restritivas são formas arriscadas para corrigir os excessos alimentares e da culpa que eles causam
Inicialmente, elas eram sutis, citadas de maneira rápida em discursos subjetivos que propunham eliminar toxinas. Mas não passavam de dietas líquidas, com o objetivo de hidratar o corpo, após períodos de ingestão alcoólica pesada e exageros alimentares. Apesar de não convencerem, causavam no máximo um quadro de fraqueza. Posteriormente, elas foram se tornando mais invasivas e perigosas. Passaram a pregar longos períodos de ingestão líquida, interromper ou aumentar a ingestão de sal, usar laxantes potentes sob a designação de naturais, capazes de impor ao corpo uma perda enorme de água e eletrólitos.
Como se não bastasse, a ousadia dessas dietas foi além, pois passaram a incluir sessões diárias de lavagem intestinal, que deram o nome de hidroterapia do cólon. A alegação das pessoas que pregam tais tratamentos é a de que eles eliminam toxinas, impurezas e “sujeiras” do corpo, além de emagrecerem. Neste contexto, não faltaram as celebridades, que obviamente deram seu testemunho de perda de muitos quilos, em poucos dias, e de sensação de bem estar e leveza ao realizarem tais tratamentos. Apesar das várias opiniões contrárias, dos alertas de perigo de tais procedimentos por parte de médicos e nutricionistas, eles continuaram a ser prescritos, ignorando o aconselhamento de estudiosos e pesquisadores da área da Nutrição. Até que há tempo, uma inglesa foi submetida a uma dessas dietas, que a levou a cortar totalmente o sal da alimentação e a ingerir litros e litros d’água por vários dias.
Esta mulher começou a se sentir mal, a vomitar várias vezes e foi aconselhada por sua nutricionista a continuar com o procedimento, pois ela estaria eliminando as impurezas e toxinas do seu corpo e que os sintomas apresentados eram normais. A paciente evoluiu com crise convulsiva e lesão neurológica caracterizada pela perda da memória. As toxinas são, na verdade, substâncias produzidas por agentes patogênicos, principalmente por bactérias, que eventualmente podem contaminar alimentos e causar muito mal à saúde das pessoas. Muitas vezes, a toxina é muito mais agressiva do que a própria bactéria que a produziu. Assim é com a toxina que causa a cólera, o botulismo, o tétano, a difteria ou a coqueluche. Assim, também ocorre com cepas toxigênicas de bactérias que causam a diarréia. Essa é a única forma de um alimento causar intoxicação, quando ele está contaminado por toxinas. Ainda que o organismo estivesse repleto de tais toxinas, como dizem os inventores das dietas da moda, a Gastroenterologia e a Infectologia não reconhecem as técnicas de tratamento de desintoxicação apregoadas por estes profissionais.
Os especialistas destas áreas alertam que essas medidas podem levar à desidratação, à perda de importantes minerais do organismo – como o sódio e o potássio – e ao prejuízo da flora bacteriana, que exerce o importante papel de defesa intestinal. A dieta de desintoxicação não tem também base endocrinológica ou nutricional. O nosso organismo é dotado de dois mecanismos muito sensíveis para eliminar substâncias indesejáveis e que não podem se acumular no nosso corpo. Através do fígado e dos rins, podemos eliminar tais substâncias, que são expelidas através das fezes e urinas. Além disso, o nosso sistema imunológico é capaz de reagir às investidas dos diferentes microorganismos que podem causar doenças ou infecções.
Dietas extremas e o jejum prolongado são capazes de induzir grande desequilíbrio metabólico, perda de peso por desidratação, arritmias cardíacas e lesões neurológicas provavelmente relacionadas ao desequilíbrio hídrico e eletrolítico dos fluídos corporais. Emagrecer com saúde A perda de peso está sempre entre os objetivos das dietas de moda. Essa questão geralmente mobiliza as pessoas, principalmente as celebridades, fato que impulsiona outras mulheres a seguirem tais dietas, sempre sonhando com um corpo perfeito, conquistado a qualquer custo. Com as dietas da moda, a perda de peso logicamente ocorre, devido ao cardápio de muito baixas calorias, que abrange desde a restrição absoluta de alimentos sólidos ao jejum à base de líquidos, que pode chegar a mais de 30 dias de restrição extrema.
A perda de peso também ocorre por conta da desidratação, mas nunca poderá ser mantida, pois, naturalmente, o corpo deverá se reidratar e a pessoa voltará aos seus hábitos alimentares anteriores. A confusão é ainda maior quando misturam toxinas com radicais livres. São coisas completamente diferentes. Sabemos que os radicais livres são formados a partir do metabolismo celular e da respiração celular e estão ligados à principal teoria do envelhecimento e das doenças crônicodegenerativas. Logo, respirar e comer geram radicais livres. Não há como viver sem eles. Não há dieta que comprovadamente reduza a produção dos radicais livres durante um dia ou poucos dias. Sabemos que uma dieta rica em frutas e vegetais, adotada a longo prazo, tem poder antioxidante, pois esses alimentos são ricos em vitaminas antioxidantes.
Mas isso tem que ser feito ao longo dos anos e se tornar uma rotina alimentar. Esta orientação dietética não tem o apelo do inédito ou das promessas absurdas dos benefícios estéticos a curto prazo. Logo, nenhuma dessas dietas é realmente desintoxicante. Primeiro, porque não estamos intoxicados; segundo, porque nosso corpo é capaz de realizar a eliminação das substâncias potencialmente nocivas, geradas a partir do metabolismo celular; terceiro, porque essas dietas não nos ajudam em nada e no máximo podem causar lesões ao corpo com seqüelas irreversíveis. Nesses casos, mesmo indenizados, como foi o caso da paciente inglesa, nossa saúde estará comprometida para sempre.